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Nacional

Autor Júnior Barbosa Data 31/01/2024 19:34

Alessandro Fadul reafirma ter sofrido racismo em jogo da Superliga B

Capa da notícia - Alessandro Fadul reafirma ter sofrido racismo em jogo da Superliga B
Foto: Arquivo
A Superliga B de vôlei começou recentemente e, infelizmente, já está marcada por atos de racismo. Na última sexta-feira (30), jogadoras do Tijuca Tênis Clube foram atacadas com barulhos e gestos que simulavam macaco durante partida contra o Curitiba, na casa do adversário. Os relatos foram reportados por Dani Suco, Thaís e Camilly.
 
Um dia depois, caso semelhante aconteceu com o treinador do Natal/América, Alessandro Fadul. Ele estava com a equipe, fora de casa, jogando contra o Goiás. Na terceira parcial, ele afirma que foi chamado de macaco por um torcedor que estava na arquibancada e próximo da comissão técnica do time potiguar.
 
Os casos ganharam bastante repercussão. Muitas equipes e atletas se manifestaram contra os ocorridos, que são crime no Brasil, e pediram investigação das autoridades. Procurada pelo Melhor do Vôlei, a CBV respondeu, por meio da assessoria, que recebeu posicionamentos oficiais e que os representantes da entidade estão realizando reuniões com todos as equipes envolvidas para recolher informações.
 
A instituição também disse que “é importante reforçar que a CBV não tolera qualquer tipo de ato discriminatório em suas competições e, desde que teve conhecimento dos casos, está tomando as medidas cabíveis para que sejam analisados no âmbito esportivo e perante o poder público. A CBV acompanhará os desdobramentos do caso e não medirá esforços para que os responsáveis sejam identificados e punidos.”
 
O Tijuca Vôlei e o Natal/América reforçaram apoio aos profissionais. Já o Curitiba informou que as gravações do jogo foram encaminhadas para análise da Delegacia Móvel de Atendimento a Futebol e Eventos de Curitiba (DEMAFE) e frisou que colaborará com todas as investigações.
 
Por meio de nota, o Goiás Vôlei disse que houve encerramento da ocorrência após o supervisor do Natal/América ter informado às autoridades policiais que houve um mal-entendido. A assessoria do time também anunciou que a denúncia não consta na súmula da partida. “A Associação Esportiva Vôlei Pró sempre teve como postura o combate intransigente a qualquer forma de discriminação, seja ela de cor, credo ou orientação sexual, motivo pelo qual jamais admitirá condutas como essa”, finalizou a nota.
 
Diante desse cenário, o MDV também procurou Alessandro Fadul, que concedeu entrevista. Confira abaixo: 
 
- Fadul, pode nos dizer como aconteceu o fato?
 
Bom, durante o terceiro set, a partida ocorria tranquilamente, sem confusões, sem que atiçasse a torcida contra nossa equipe, nada alterasse os ânimos da torcida contra a nossa equipe, enfim, o placar marcava, se não me engano, 3 a 2 para gente, até que um torcedor que estava há aproximadamente quatro metros de mim, sentado bem no primeiro degrau da arquibancada, me chamou macaco. Como ele estava bem ao meu lado, foi muito fácil identificar. Ao mesmo tempo, eu virei bastante irritado e fui sair da quadra em direção a ele. O delegado da partida logo levantou e veio em minha direção.
 
Eu, muito irritado, me dirigindo ao indivíduo que havia me chamado de macaco. Logo, membros da comissão técnica da equipe do Goiás também vieram até o local tentando apaziguar aquela situação. Foi então que começaram a questionar o que tinha sido dito e eu repetindo inúmeras vezes que ele havia me chamado de macaco.
 
Naquela confusão toda, começamos a tentar também tranquilizar os meus atletas que não tinham nada a ver com isso. Comecei a tirá-los dali porque o delegado disse que, como ele não havia ouvido, o jogo deveria transcorrer normalmente. O mínimo que se esperava é que averiguasse o fato.
 
- Como foi o reinício do jogo?
 
No reinício da partida, eu fui advertido com um cartão vermelho. Segundo a árbitra disse ao meu capitão, a minha atitude retardou a partida. O jogo transcorreu normalmente até finalizar o jogo. O delegado, não tomou nenhuma providência. Foi aí que nós acionamos a polícia militar, que se deslocou até o local e chegou bem após o término da partida. Ao chegar no ginásio, eles prontamente foram colher os depoimentos dos envolvidos das duas partes e eu contei a versão dos fatos ao policial.
 
E foi aí que as coisas começaram a talvez complicar um pouco. Eles estavam num grupo de 20 a 30 pessoas de amigos e familiares. Um deles disse até que o rapaz que me chamou de macaco é primo do treinador. Enfim, eles estavam em grupo de amigos e familiares, mais membros da comissão técnica do Goiás.
 
- O que aconteceu na sequência?
 
Estávamos em duas pessoas, o meu supervisor e eu. Foi aí que se começou uma pressão para que a gente não levasse o caso adiante. Naquele momento, ainda emocionalmente envolvido com tudo que tinha acontecido, com muitas pessoas em volta tentando nos pressionar e eu também estava constrangido de estar ali prestando esclarecimentos à polícia, como se eu fosse criminoso.
 
Naquele ambiente hostil, tudo o que eu queria era sair, ir embora. Eu estava com muita raiva e não queria ficar. Foi aí que talvez eu tenha cometido o erro de não ter levado o caso adiante e simplesmente querer sair.
 
Na volta para casa, a situação não estava me fazendo bem. Parecia que eu tinha um caminhão nas costas. Foi aí que eu decidi me pronunciar e contar tudo o que aconteceu. Até hoje, dirigentes da equipe (Goiás) estão tentando pressionar o meu supervisor, pressionar o nosso departamento jurídico para que a gente não fale.
 
- No depoimento, foi informado sobre algum tipo de mal-entendido?
 
Como eu disse, o meu grande erro, foi não ter levado o caso adiante, não ter finalizado a denúncia na delegacia. Ao término da partida, nós entregamos ao um delegado um relatório para ser anexado à súmula contando todos os fatos. Em nenhum momento eu neguei, em nenhum momento eu falei algo diferente do que havia acontecido. A todo momento, deixei claro para todos o que havia acontecido. O meu único erro, acredito eu, não ter levado o caso adiante e não ter seguido com os policiais até a delegacia para dar prosseguimento.
 
- Quais medidas você espera que aconteçam agora?
 
De verdade, eu espero que medidas sejam tomadas para coibir esse tipo de comportamento. Nós não podemos agir como se nada tivesse acontecido. Nós não podemos simplesmente alegar que, ‘como eu não ouvi, o caso não merece sequer ser averiguado’. É muito fácil dizer que não ouviu, já que a ofensa não foi dirigida a você. Que os delegados da partida se atentem e levem a sério as denúncias, porque toda denúncia ela merece ser averiguada. Quando alguém denuncia algo, ela não está culpando e ela não está imediatamente julgando o indivíduo. O julgamento é feito por órgãos competentes. Não é brincadeira. O que eu disse a todos não foi um papel jogado na quadra ou uma cusparada no banco de reservas. O que aconteceu ali foi muito grave. Era o mínimo que eu esperada. É muito mais fácil fechar os olhos e fingir que nada aconteceu.
 
- O caso de racismo aconteceu com você um dia após triste relato de atletas do Tijuca também na Superliga B. Como você vê essa sequência de fatos? Acredita que a CBV precisa estar mais envolvida?
 
Isso retrata a realidade da nossa sociedade, um retrato fidedigno de quem nós realmente somos. O que a CBV pode fazer é agir de forma rigorosa e tentar punir os envolvidos, mas a responsabilidade total é de quem está sediando o evento, que tem gerência pelos fatos que acontecem no ginásio. A entidade está ciente dos fatos e espero que os delegados recebam melhor orientação de como agir em casos parecidos.
 
- Como foi o suporte do Natal Vôlei? E dos torcedores?
 
O clube está me dando total apoio e suporte. Quando chegamos em Natal, fui ouvido. Sobre os torcedores da equipe, não tenho nem o que falar. Muitas mensagens e carinho recebido de todo mundo.
 
- Qual mensagem você gostaria de passar ao país sobre o racismo?
 
Nós podemos mudar. Se eu pudesse deixar algo, seria em defesa da igualdade e celebrar a diversidade. O racismo não tem mais lugar na nossa sociedade. Juntos, podemos construir um mundo onde todos são respeitados, independente da cor da pele.

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