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Autor Júnior Barbosa Data 22/05/2023 11:28

Opinião: A virada de chave que a seleção feminina precisa para chegar ainda mais longe

Capa da notícia - Opinião: A virada de chave que a seleção feminina precisa para chegar ainda mais longe
Foto: FIVB

Por: Daniel Rodrigues

Até os mais otimistas não esperavam os últimos resultados da renovada seleção feminina de vôlei do Brasil, comandada pelo tricampeão olímpico José Roberto Guimarães. Mesmo com as aposentadorias da "amarelinha" de referências, como a eterna capitã Fabiana, Jaqueline, Sheilla, Thaísa (que recentemente aceitou voltar ao selecionado) e Fernanda Garay (pós-Tóquio), a equipe esteve nas finais de todos campeonatos importantes que disputou. As pratas vieram nas edições 2019, 2021 e 2022 da Liga das Nações, na olimpíada de Tóquio, em 2021, e no Campeonato Mundial, disputado na Polônia e Holanda, no ano passado.

Todos esses feitos foram marcantes e, de certa forma, inesperados, pelo momento que passava a equipe. A presença em todas as decisões serviu para mostrar ao mundo e ao próprio time brasileiro que não se pode esperar pouco desse grupo.

No entanto, um ponto merece e precisa ser destacado: nessas cinco importantes finais, o Brasil conseguiu vencer somente três sets, sendo dois contra os Estados Unidos (2019) e um contra as mesmas norte-americanas, em 2021 (ambos em finais da Liga das Nações). Na decisão da VNL de 2022 (contra a Itália), assim como nas finais da Olímpiada (diante dos Estados Unidos) e do Mundial, vencido pela Sérvia, as brasileiras não conseguiram desenvolver o seu jogo e foram superadas em três sets. 

Com esse histórico prateado, que merece ser muito reconhecido e celebrado, a seleção bicampeã olímpica inicia o trabalho de preparação para as competições internacionais de 2023 com um status diferente. Apesar da renovação ainda fazer parte do processo, o grupo de Zé Roberto deve entrar em quadra mais confiante em seu potencial. 

Observando por fora, a impressão que passa é que essa "falta de responsabilidade" nos torneios anteriores fez bem e foi necessária para um desenvolvimento saudável e natural das novas peças que estrearam com a camisa amarela. Sem tanta obrigação, o Brasil foi chegando e "re"conquistando seu espaço. Mas por outro lado, essa ausência de maiores pretensões, pode inconscientemente ter atrapalhado o conjunto nos momentos mais importantes das partidas que valiam o título desses torneios.

Talvez, muitas jogadoras que ali estavam, durante todo o processo de trabalho preparatório, em seu mais profundo íntimo, não tinham a responsabilidade (e nem deveriam ter) de chegar a finais internacionais. Com isso, todo esse lado mental, tão importante numa decisão, não tenha sida desenvolvido da melhor forma. 

A seleção brasileira fez muito bonito e subiu degraus inimagináveis, mas, talvez, com uma mentalidade um pouco mais "confiante em si mesma", poderia ter beliscado uma medalha de ouro em uma dessas duras batalhas.

Digo isso, pois a impressão que passou nas finais dos Jogos Olímpicos, do Mundial e da Liga das Nações de 2022, é que o Brasil "travou" e não sabia muito bem como agir, ou impor o seu jogo, como vinha fazendo tão bem no decorrer de todos os torneios.

Virada essa página, o momento do Brasil agora definitivamente é outro. Temos excelente peças em todas as posições, material humano com excelente potencial físico, mais experiência adquirida ao longo desses últimos cinco anos, jogadoras jovens com mais rodagem internacional, tradição de sobra, um dos melhores jogos coletivos do mundo, além de uma comissão técnica que dispensa comentários. Longe de ser um caminho fácil, mas nossa seleção está em um grande momento e tem todas as possibilidades de ser campeã de qualquer campeonato que disputar. 

Neste contexto, parece que além de todo trabalho físico, técnico e tático que é desenvolvido com excelência por José Roberto e toda sua equipe, o lado mental poderá ser fundamental para sacramentar essa geração vitoriosa com um tão merecido OURO. O psicológico das atletas precisará ter claro que uma final de qualquer torneio é muito possível e que elas irão estar preparadas da melhor forma, em todos os aspectos, para aquele momento. Postura, agressividade, concentração, frieza e obediência tática deverão ser treinadas dia a dia, com afinco, visando chegar o mais longe possível, mas também pensando em usar todos esses artifícios nos momentos críticos de uma disputa valendo a medalha de ouro. 

Essa virada de chave parece ser crucial para coroar essa regular (a única que chegou nas finais mais importantes de tudo que disputou) e fantástica seleção que temos para representar o Brasil. Acreditar que são enormes, capazes e merecedoras, pode e deve elevar nossas meninas a um degrau ainda mais alto.

A temporada de clubes também é motivo de grande otimismo para todo esse cenário. Dentro do Brasil, vimos a central Carol com fome de bola, agressiva como nunca, com seus dentes cerrados e olhos fixos, conquistar seu primeiro título da Superliga vestindo a camisa do Dentil/Praia Clube, de Uberlândia-MG, após "bater na trave" nas três edições anteriores. 

A levantadora Macris, em sua primeira aventura internacional, e a jovem Ana Cristina, cada vez mais madura, também encantaram o mundo defendendo as cores do turco Fenerbache. Ambas faturaram o título da Copa Turca e da Liga Nacional (por três jogos a zero), após derrotarem o poderoso Eczacibasi nas duas oportunidades. Além disso, fizeram belíssimas apresentações na Champions League (eliminando o "papa-tudo" Conegliano, da Itália, nas quartas de final) e sendo eliminadas na semifinal pelo Vakifbank, de Gabi Guimarães.

Ahhh, a Gabi... É "chover no molhado" rasgar elogios a nossa craque. A ponteira fez uma belíssima temporada de clubes, ficando com a medalha de prata no Mundial de Clubes, além de terminar a temporada com o merecido ouro na Champions League, superando o Eczacibasi Dynavit, de Tijana Boskovic, no Super Finals. Mais que as medalhas, nossa capitã seguiu varrendo o fundo de quadra, dando estabilidade ao passe de seu time, passando por cima dos bloqueios mais altos do mundo, além de demonstrar um perfil de liderança de impor respeito mundial.

A bicampeã olímpica Thaísa protagonizou um excelente desempenho pelo Gerdau Minas e decidiu retornar ao grupo brasileiro após alguns anos se dedicando somente ao clube. A central também será fundamental ao espírito dessa seleção. Com ampla bagagem internacional, a jogadora que esbanja técnica e confiança, poderá ajudar ainda mais a trazer esse espírito vencedor às novas jogadoras.

Essas cinco atletas foram apenas alguns belos exemplos do desenvolvimento possibilitado com essas experiências em momentos super decisivos, defendendo os seus clubes. Elas precisam levar esse sentimento e essa sede por títulos ao grupo brasileiro que já iniciou os treinamentos em Saquarema.

Muito trabalho será realizado até Paris 2024. Certamente teremos muitas vitórias, algumas derrotas, suor, dores, superação, evolução e até choro. Mas o foco e a confiança nessa virada de chave precisa estar mais aceso do que nunca. Nossa seleção merece muito estar no lugar mais alto do pódio novamente!

 

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